segunda-feira, 7 de junho de 2010

Você sabe o que eles já sabem

Fazer a sondagem do que os alunos conhecem no início do ano é essencial para melhorar a aprendizagem

Todo início de ano é igual. Novos alunos chegam à escola, outros partem, e a progressão dos estudantes faz com que os professores enfrentem sempre o desafio de acompanhar uma nova turma. Além de memorizar rostos e associá-los aos nomes, uma tarefa mais difícil (e importante) os aguarda: investigar o que cada aluno já sabe para planejar as primeiras aulas do ano.

A edição de fevereiro de NOVA ESCOLA traz a reportagem de capa com o título É Hora de Conhecer o Que Eles Já Sabem, sobre o chamado diagnóstico inicial, ou sondagem das aprendizagens. O diretor, nas reuniões deste início de ano, deve reforçar para a equipe a importância de realizar essa atividade fundamental para a melhoria do diálogo entre o ensino e a aprendizagem. Afinal, não dá para decidir que os alunos precisam aprender sem antes descobrir o nível de conhecimento que eles já têm.

É papel do gestor e da coordenação pedagógica lembrar aos docentes que, diferentemente do que muitos acreditam, as crianças costumam saber muita coisa. "Antes mesmo de entrar na escola, elas têm ideias prévias sobre quase todos os conteúdos escolares. Desde pequenas, elas interagem com o mundo e tentam explicá-lo", afirma Jussara Hoffmann, especialista em Educação e professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "É preciso conhecê-las para não repetir conceitos nem propor tarefas além do que a garotada é capaz de compreender." Daí a importância da avaliação inicial. "Esse olhar é imprescindível para construir uma visão detalhada de cada estudante e, com isso, poder planejar as aulas com base nas reais necessidades de aprendizagem do grupo", explica Jussara.

Com o apoio da supervisão e da coordenação pedagógica, a equipe descobrirá que o bom diagnóstico inicial não tem o objetivo de contabilizar os erros ou classificar (e rotular) os alunos de acordo com o conhecimento em determinado conteúdo. Nem se trata de pedir que os alunos façam uma simples prova. "A ideia é enxergar os problemas comuns em determinada turma que permitam direcionar as atividades que serão dadas durante o ano para as verdadeiras necessidades de aprendizagem", afirma Leika Watabe, coordenadora do Programa Ler e Escrever, da prefeitura de São Paulo. Geralmente, essa avaliação é feita no começo do período letivo para que os professores usem os resultados no planejamento inicial. Contudo, fazer o diagnóstico das aprendizagens é um procedimento que deve ser adotado toda vez que for introduzido um novo conteúdo.

O bom diagonóstico é um mapa dos conhecimentos da sala

Não é qualquer atividade que serve para a realização de um bom diagnóstico. Não basta apresentar uma questão para obter um sim ou não como resposta - ou, no máximo, um comentário dos alunos mais participativos. O mais indicado é elaborar situações-problema que permitam que as crianças mobilizem todo o conhecimento que têm sobre o assunto. "A chave é refletir sobre o problema e trabalhar nele", ressalta Leika, "pois não é falando que elas vão mostrar o que sabem." Quer um exemplo? Se o professor perguntar o que um estudante pensa sobre os números, dificilmente ele conseguirá verbalizar uma resposta que explicite as hipóteses já construídas. Pode parecer óbvio, mas muitos docentes cometem esse equívoco.

Com as produções da garotada em mãos, os professores podem analisar, com o auxílio da coordenação pedagógica, o que cada um sabe e como faz as representações no papel. É importante que o gestor insista na realização de uma reunião com toda a equipe para ouvir as avaliações construídas com base no diagnóstico inicial - que permitem também compreender a lógica empregada pelo aluno na resolução da tarefa. O produto final desse trabalho é uma espécie de "mapa" com os conhecimentos presentes em cada sala. Se ninguém do 1º ano conhece um conteúdo, é claro que ele tem de ser trabalhado com toda a turma. Se a maioria já resolve bem determinadas questões, a chave é pensar em formas de dar mais atenção aos que precisam de apoio.

Sobretudo entre os alfabetizadores, fazer a avaliação inicial é uma prática comum. Em outras áreas, porém, essa atividade ainda não é muito difundida. O fato é que já existem formas amplamente testadas e aprovadas de fazer diagnósticos precisos para muitos conteúdos. Em Língua Portuguesa, por exemplo, ao pedir para um aluno escrever, é possível descobrir o que ele já domina em termos de ortografia, gramática e organização textual. Em Matemática, ao oferecer uma situação-problema, se avaliam os conhecimentos de uma estudante sobre escrita numérica e no que diz respeito à resolução de questões nos campos aditivo e multiplicativo.

A reportagem de NOVA ESCOLA traz ainda um guia detalhado de como realizar essa avaliação com diversos conteúdos de Matemática para as séries iniciais do Ensino Fundamental, com um passo a passo de atividades sobre escrita de números, campo aditivo e campo multiplicativo. Reserve um exemplar para os seus professores de Matemática, mas não se esqueça de que a sondagem de aprendizagens é muito importante de ser realizada em todas as disciplinas e em todas as séries. Estimule a sua equipe a pesquisar, em conjunto com a coordenação pedagógica, formas de implementá-la.

FONTE:http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/coordenador-pedagogico/voce-sabe-eles-sabem-avaliacao-inciial-diagnostico-sondagem-532550.shtml

Você sabe o que eles já sabem

Fazer a sondagem do que os alunos conhecem no início do ano é essencial para melhorar a aprendizagem

Todo início de ano é igual. Novos alunos chegam à escola, outros partem, e a progressão dos estudantes faz com que os professores enfrentem sempre o desafio de acompanhar uma nova turma. Além de memorizar rostos e associá-los aos nomes, uma tarefa mais difícil (e importante) os aguarda: investigar o que cada aluno já sabe para planejar as primeiras aulas do ano.

A edição de fevereiro de NOVA ESCOLA traz a reportagem de capa com o título É Hora de Conhecer o Que Eles Já Sabem, sobre o chamado diagnóstico inicial, ou sondagem das aprendizagens. O diretor, nas reuniões deste início de ano, deve reforçar para a equipe a importância de realizar essa atividade fundamental para a melhoria do diálogo entre o ensino e a aprendizagem. Afinal, não dá para decidir que os alunos precisam aprender sem antes descobrir o nível de conhecimento que eles já têm.

É papel do gestor e da coordenação pedagógica lembrar aos docentes que, diferentemente do que muitos acreditam, as crianças costumam saber muita coisa. "Antes mesmo de entrar na escola, elas têm ideias prévias sobre quase todos os conteúdos escolares. Desde pequenas, elas interagem com o mundo e tentam explicá-lo", afirma Jussara Hoffmann, especialista em Educação e professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "É preciso conhecê-las para não repetir conceitos nem propor tarefas além do que a garotada é capaz de compreender." Daí a importância da avaliação inicial. "Esse olhar é imprescindível para construir uma visão detalhada de cada estudante e, com isso, poder planejar as aulas com base nas reais necessidades de aprendizagem do grupo", explica Jussara.

Com o apoio da supervisão e da coordenação pedagógica, a equipe descobrirá que o bom diagnóstico inicial não tem o objetivo de contabilizar os erros ou classificar (e rotular) os alunos de acordo com o conhecimento em determinado conteúdo. Nem se trata de pedir que os alunos façam uma simples prova. "A ideia é enxergar os problemas comuns em determinada turma que permitam direcionar as atividades que serão dadas durante o ano para as verdadeiras necessidades de aprendizagem", afirma Leika Watabe, coordenadora do Programa Ler e Escrever, da prefeitura de São Paulo. Geralmente, essa avaliação é feita no começo do período letivo para que os professores usem os resultados no planejamento inicial. Contudo, fazer o diagnóstico das aprendizagens é um procedimento que deve ser adotado toda vez que for introduzido um novo conteúdo.

O bom diagonóstico é um mapa dos conhecimentos da sala

Não é qualquer atividade que serve para a realização de um bom diagnóstico. Não basta apresentar uma questão para obter um sim ou não como resposta - ou, no máximo, um comentário dos alunos mais participativos. O mais indicado é elaborar situações-problema que permitam que as crianças mobilizem todo o conhecimento que têm sobre o assunto. "A chave é refletir sobre o problema e trabalhar nele", ressalta Leika, "pois não é falando que elas vão mostrar o que sabem." Quer um exemplo? Se o professor perguntar o que um estudante pensa sobre os números, dificilmente ele conseguirá verbalizar uma resposta que explicite as hipóteses já construídas. Pode parecer óbvio, mas muitos docentes cometem esse equívoco.

Com as produções da garotada em mãos, os professores podem analisar, com o auxílio da coordenação pedagógica, o que cada um sabe e como faz as representações no papel. É importante que o gestor insista na realização de uma reunião com toda a equipe para ouvir as avaliações construídas com base no diagnóstico inicial - que permitem também compreender a lógica empregada pelo aluno na resolução da tarefa. O produto final desse trabalho é uma espécie de "mapa" com os conhecimentos presentes em cada sala. Se ninguém do 1º ano conhece um conteúdo, é claro que ele tem de ser trabalhado com toda a turma. Se a maioria já resolve bem determinadas questões, a chave é pensar em formas de dar mais atenção aos que precisam de apoio.

Sobretudo entre os alfabetizadores, fazer a avaliação inicial é uma prática comum. Em outras áreas, porém, essa atividade ainda não é muito difundida. O fato é que já existem formas amplamente testadas e aprovadas de fazer diagnósticos precisos para muitos conteúdos. Em Língua Portuguesa, por exemplo, ao pedir para um aluno escrever, é possível descobrir o que ele já domina em termos de ortografia, gramática e organização textual. Em Matemática, ao oferecer uma situação-problema, se avaliam os conhecimentos de uma estudante sobre escrita numérica e no que diz respeito à resolução de questões nos campos aditivo e multiplicativo.

A reportagem de NOVA ESCOLA traz ainda um guia detalhado de como realizar essa avaliação com diversos conteúdos de Matemática para as séries iniciais do Ensino Fundamental, com um passo a passo de atividades sobre escrita de números, campo aditivo e campo multiplicativo. Reserve um exemplar para os seus professores de Matemática, mas não se esqueça de que a sondagem de aprendizagens é muito importante de ser realizada em todas as disciplinas e em todas as séries. Estimule a sua equipe a pesquisar, em conjunto com a coordenação pedagógica, formas de implementá-la.

FONTE:http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/coordenador-pedagogico/voce-sabe-eles-sabem-avaliacao-inciial-diagnostico-sondagem-532550.shtml

Debate sobre formação continuada na escola

Troque ideias sobre a formação de professores na escola com Luiza Helena Christov, da Universidade Estadual Paulista (Unesp)


Atribuição principal do coordenador pedagógico, a formação continuada encontra diversos obstáculos para ser efetivada na realidade das escolas brasileiras. A falta de um tempo dedicado para ela na rotina dos professores é a mais evidente, mas a qualificação dos próprios coordenadores - que muitas vezes não se reconhecem como formadores - é a mais grave.

Para se tornar formador é necessário estudar as didáticas específicas, montar uma rotina que permita dar conta de todo o planejamento que a formação exige, além de saber compartilhar com clareza o conhecimento e construir uma relação de parceria com os docentes (habilidades que o autor português Antônio Nóvoa chama de tato pedagógico).

Ao reunir todos esses elementos, o coordenador possibilita que os professores reflitam sobre a prática de sala de aula e se tornem, ao longo do processo formativo, mais conscientes da intencionalidade de suas estratégias de ensino e capazes de modificá-las para melhorar a aprendizagem dos alunos. É a chamada transformação da prática, que deve ser o objetivo final de todo processo de formação em serviço.

Luiza Helena Christov, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus São Paulo, acredita na formação continuada como um processo decisivo para a melhora da qualidade do ensino no país. "A formação em serviço é como trocar um pneu em um carro em movimento porque muitas vezes ela tem que preencher lacunas da formação inicial de profissionais que já estão trabalhando. Mas acredito que é possível construir um processo que efetivamente melhore o ensino e seja gratificante para formadores, professores e alunos", diz.

fonte:http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/coordenador-pedagogico/debate-formacao-continuada-escola-549588.shtml

Desafios do coordenador pedagógico

Mais do que resolver problemas de emergência e explicar as dificuldades de relacionamento ou aprendizagem dos alunos, seu papel é ajudar na formação dos professores


Muito se tem falado sobre o papel do coordenador pedagógico. Afinal, por que ele é necessário? Quem dera coordenar fosse simples como diz o dicionário: dispor segundo certa ordem e método; organizar; arranjar; ligar.

O coordenador pedagógico, muito antes de ganhar esse status, já povoava o imaginário da escola sob as mais estranhas caricaturas. Às vezes, atuava como fiscal, alguém que checava o que ocorria em sala de aula e normatizava o que podia ou não ser feito. Pouco sabia de ensino e não conhecia os reais problemas da sala de aula e da instituição. Obviamente, não era bem aceito na sala dos professores como alguém confiável para compartilhar experiências.

Outra imagem recorrente desse velho coordenador é a de atendente. Sem um campo específico de atuação, responde às emergências, apaga focos de incêndios e apazigua os ânimos de professores, alunos e pais. Engolido pelo cotidiano, não consegue construir uma experiência no campo pedagógico. Em ocasiões esporádicas, ele explica as causas da agressividade de uma criança ou as dificuldades de aprendizagem de uma turma. Hoje o coordenador organiza eventos, orienta os pais sobre a aprendizagem dos filhos e informa a comunidade sobre os feitos da escola.

Mas isso é muito pouco. Na verdade, ele se faz cada vez mais necessário porque professores e alunos não se bastam. Além das histórias individuais que todos escrevemos, é preciso construir histórias institucionais. É duro constatar a fragilidade de tantas escolas que montam um currículo e uma prática efetiva durante anos e perdem tudo com a transferência ou a aposentadoria de professores. Construir história nos torna humanos, e é de estranhar que, justamente na escola, tantas vezes tudo recomece do zero. O coordenador eficiente centraliza as conquistas do grupo de professores e assegura que as boas idéias tenham continuidade.

Além do que se passa dentro das quatro paredes da sala de aula, há muito mais a aprender no convívio do coletivo - no parque, no refeitório, na rua, na comunidade. A dinâmica nesses espaços deve ser ritmada pelo coordenador. É preciso lembrar ainda que só quem não está em classe, imerso naquela realidade, é capaz de estranhar. E isso é ótimo! É do estranhamento que surgem bons problemas, o que é muito mais importante do que quando as respostas aparecem prontas.

Só assim é possível que o coordenador efetivamente forme professores (e esse é o seu papel primordial). Ampliando a significação do dicionário, eu diria que no dia-a-dia de uma instituição educativa é preciso:
- dispor segundo certa ordem e método as ações que colaboram para o fortalecimento das relações entre a cultura e a escola;
- organizar o produto da reflexão dos professores, do planejamento, dos planos de ensino e da avaliação da prática;
- arranjar as rotinas pedagógicas de acordo com os desejos e as necessidades de todos; e ligar e interligar pessoas, ampliando os ambientes de aprendizagem.

Esse é o sentido de ser um bom coordenador, não de uma instituição, mas de processos de aprendizagem e de desenvolvimento tão complexos como os que temos nas escolas. Que os que desejam se responsabilizar por essa importante função vejam aqui um convite para criar um estilo de coordenar.

FONTE:http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/coordenador-pedagogico/

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Você sabe o que é BULLYING?

BULLYNG - POR RUBEM ALVES


Eu fui vítima dele. Por causa dele, odiei a escola. Nas minhas caminhadas passadas, eu o via diariamente. Naquela adolescente gorda de rosto inexpressivo que caminhava olhando para o chão. E naquela outra, magricela, sem seios, desengonçada, que ia sozinha para a escola. Havia grupos de meninos e meninas que iam alegremente, tagarelando, se exibindo, pelo mesmo caminho. Mas eles não convidavam nem a gorda nem a magricela. "Bullying" é o nome dele. Dediquei-me a escrever sobre os sofrimentos a que crianças e adolescentes são submetidos em virtude dos absurdos das práticas escolares, mas nunca pensei sobre as dores que alunos infligem a colegas seus. Talvez eu preferisse ficar na ilusão de que todos os jovens são vítimas. Não são. Crianças e adolescentes podem ser cruéis."Bullying." Fica o nome em inglês porque não se encontrou palavra em nossa língua que seja capaz de dizer o que "bullying" diz. "Bully" é o valentão: um menino que, por sua força e sua alma deformada pelo sadismo, tem prazer em bater nos mais fracos e intimidá-los. Vez por outra, crianças e adolescentes têm desentendimentos e brigam. São brigas que têm uma razão. São acidentes. Acontecem e pronto. Não é possível fazer uma sociologia dessas brigas. Depois delas, os briguentos podem fazer as pazes e se tornar amigos de novo. Isso nada tem a ver com "bullying". No "bullying", um indivíduo - o valentão - ou um grupo escolhe a vítima que vai ser seu "saco de pancadas". A razão? Nenhuma. Sadismo. Eles "não vão com a cara" da vítima. É preciso que a vítima seja fraca, que não saiba se defender. Se ela fosse forte e soubesse se defender, a brincadeira não teria graça.

A vítima é uma peteca: todos batem nela e ela vai de um lado para outro sem reagir. Pode-se fazer uma sociologia do "bullying" porque ele envolve muitas pessoas e tem continuidade no tempo. A cada novo dia, ao se preparar para a escola, a vítima sabe o que a aguarda. Até) agora, tenho usado o artigo masculino, mas o "bullying" não é) monopólio dos meninos. As meninas também usam outros tipos de força que não a dos punhos. E o terrível é que a vítima sabe que não há jeito de fugir. Ela não conta aos pais, por vergonha e medo. Não conta aos professores porque sabe que isso só poderá tornar ainda pior a violência dos colegas. Ela está condenada ? solidão. E ao medo acrescenta-se o ódio.

A vítima sonha com vingança. Deseja que seus algozes morram. Vez por outra, ela toma providências para ver seu sonho realizado. As armas podem torná-la forte. Na maioria dos casos, o "bullying" não se manifesta por meio de agressão física, mas por meio de agressão verbal e de atitudes. Isolamento, caçoada, apelidos. Aprendemos com os animais. Um ratinho preso numa gaiola absorve a informação rapidamente. Uma alavanca lhe dá comida. Outra alavanca produz choques. Depois de dois choques, o ratinho não mais tocará a alavanca que produz choques. Mas tocará a alavanca da comida sempre que tiver fome. As experiências de dor produzem afastamento. O ratinho continuará a não tocar a alavanca que produz choque ainda que os psicólogos que fazem o experimento tenham desligado o choque e tenham ligado a alavanca comida.

Experiências de dor bloqueiam o desejo de explorar. O fato é que o mundo do ratinho ficou ordenado. Ele sabe o que fazer. Imaginem, agora, que uns psicólogos sádicos resolvam submeter o ratinho a uma experiência de horror: ele levará choques em lugares e momentos imprevistos ainda que não toque em nada. O ratinho está perdido. Ele não tem formas de organizar o seu mundo. Não há nada que ele possa fazer. Seus desejos, imagino, seriam dois. Primeiro: destruir a gaiola, se pudesse, e fugir. Isso não sendo possível, ele optaria pelo suicídio.

Edimar era um jovem tímido de 18 anos que vivia na cidade de Taiúva, no Estado de São Paulo. Seus colegas fizeram-no motivo de chacota porque ele era muito gordo. Puseram-lhe os apelidos de "gordo", "mongolóide", "elefante cor-de-rosa" e "vinagrão", por tomar vinagre de maçã todos os dias, no seu esforço para emagrecer. No dia 27 de janeiro de 2003, ele entrou na escola armado e atirou contra seis alunos, uma professora e o zelador, matando-se a seguir.

Luis Antônio era um garoto de 11 anos. Mudando-se de Natal para Recife por causa do seu sotaque, passou a ser objeto da violência de colegas. Batiam nele, empurravam-no, davam-lhe murros e chutes. Na manhã do dia fatídico, antes do início das aulas, apanhou de alguns meninos que o ameaçaram com a "hora da saída". Por volta das 10h30, saiu correndo da escola e nunca mais foi visto. Um corpo com características semelhantes ao dele, em estado de putrefação, foi conduzido ao IML (Instituto Médico Legal) para perícia.

Achei que seria próprio falar sobre o "bullying" na seqüência do meu artigo sobre o tato que se iniciou com: "O tato é o sentido que marca, no corpo, a divisa entre os deuses Eros, do amor, e Tânatos, da morte. É por meio do tato que o amor se realiza. É no lugar do tato que a tortura acontece". O "bullying é) a forma escolar da tortura.
Fonte: Portal Aprendiz, 27/05/2010

A educação não pode ser delegada à escola. Aluno é transitório. Filho é para sempre. Içami Tiba

Relação pedagógica – relação de gestão de emoções

Autores como Fineman (1993), Nias (1996) e Day (1998), defendem que o ensino é um trabalho onde as emoções são primordiais. Estas têm um papel central de acordo com determinados pressupostos:
1. A inteligência Emocional está no coração da prática profissional (Goleman, 1995);
2. As emoções são indispensáveis para a tomada de decisão racional (Damásio, 1994, 2000 e Sylwerter, 1995);
3. A saúde emocional é crucial para um ensino eficaz;
4. A saúde emocional e a cognitiva é afectada pela biografia pessoal, pela carreira, pelo contexto social (trabalho e casa) e por factores externos (políticas educativas).

Segundo António Damásio (2000), o processo de recordar factos novos é reforçado pela presença de certos níveis de emoção ao longo da aprendizagem. Toda a aprendizagem que seja feita com elevado conteúdo emocional é mais eficaz que outra desprovida de emoção. Logo, a emoção é parte integrante da cognição.
O professor na sala de aula e na sua relação com os alunos deve estar consciente de que a emoção está presente e interfere directamente nos actos dos diversos actores. Ter emoções fortes, e por vezes contraditórias faz parte dia-a-dia de professores e alunos. O clima emocional que se desenvolve na sala de aula interfere directamente nas atitudes e práticas de aprendizagem.
Na relação pedagógica é essencial que as emoções positivas prevaleçam sobre as emoções negativas, para que professores e alunos mantenham o entusiasmo pelo ensino.
O professor deve estar consciente do trabalho emocional que é gerir os desafios de ensinar turmas com diferentes motivações, histórias pessoais e capacidades de aprendizagem diferentes. Alunos que esperam ser entendidos, ter sucesso, ou que não manifestam interesse em participar na experiência educativa e se tornam indisciplinados ou indiferentes. Todos estes aspectos têm de ser salvaguardados, para que a confiança no professor se mantenha, e por sua vez o professor mantenha o seu entusiasmo por ensinar, a “Paixão pelo Ensino” defendida por Cristopher Day, (2004).
O mesmo autor defende que o compromisso e relacionamento emocional entre professor e aluno são tão importantes para elevar os standards como o conteúdo intelectual da própria aula. Os relacionamentos emocionais positivos com os alunos poderão também contribuir para uma melhoria do comportamento e aumentar a motivação dos alunos para aprender: “é a componente afectiva que guia a atenção dos alunos e é a principal determinante do aproveitamento escolar.” (Oatley e Nundy, 1996)
Para que a emoção e o ensino adquiram uma posição de qualidade, os professores deverão ter um sentido de identidade claro, saber quem são, em que circunstâncias ensinam e que influências condicionam o seu ensino, desenvolvendo uma prática profissional apaixonada e consciente. É necessário que o professor tenha um sentido de identidade pessoal, profissional, social e emocional para conseguir ser eficaz.

Relação pedagógica – relação de amor

A relação educativa é entendida alguns autores como uma relação de amor: a criança deseja aprender pelo seu desejo de ser aceite, recompensada e reconhecida como bom aluno; o professor deve preparar o caminho para uma relação baseada no respeito e no afecto que estabelecerá as condições da situação de trabalho (Vítor Franco, 2004).
A criança identifica-se com o professor nos seus objectivos e necessidades, o professor precisa de se identificar com a criança e com a sua tarefa. Em seguida há que transformar o “trabalho para o amor” em “amor pelo trabalho”.
O professor terá de desenvolver uma boa capacidade de observação empática, de comunicação e de se dar, como de conhecimento sobre os conteúdos e métodos implicados nessa aprendizagem. “As crianças respondem à personalidade total do professor e, de modo recíproco, ao respeito, apreciação e entusiasmo que o professor comunica à criança sobre si mesmo” (Vítor Franco, 2004)
A relação professor e aluno são afectados não apenas pelos sentimentos e expectativas do aluno mas, também, pelas acções do professor, o seu comportamento, aspirações, medos e outros problemas de que o próprio professor não estará consciente.


Relação Pedagógica – relação sócio-institucional

Uma outra visão é a defendida por Gilly (1989) que defende que a relação pedagógica não pode apenas estar centrada na relação professor-aluno. Para o autor a psicologia da relação educativa só faz sentido se atendermos à importância dos factores sociais e sócio-institucionais (objectivos educativos, processos e métodos educativos, estruturas, modalidades de funcionamento da instituição, referências ideológicas). Defende, por isso, que para estudar a relação professor-aluno é necessário admitir a existência de um modelo de relação educativa imposta pela instituição educativa, que por sua vez não é independente. Assim, a margem de manobra dos parceiros da relação, nomeadamente do professor, é limitada por constrangimentos da instituição que o emprega. A relação pedagógica não se apoia na psicologia da pessoa mas sim numa psicologia de personagens, atenta ao papel desempenhado pelo professor e aluno no quadro institucional onde interagem. Segundo Gilly uma psicologia da relação educativa centrada em factores de personalidade conduzirá a explicações e soluções de carácter ilusório. (Ana Carita, 1993)

Relação Pedagógica – uma Relação de Confiança


Com base na análise dos itens 9 e 11 do artigo “Profissionalidade Pedagógica e Formação de Professores”, de Jorge Olímpio Bento (1994), iremos abordar a temática da relação pedagógica assente numa relação de confiança estabelecida entre professor e alunos.

As principais ideias que o autor explicita nestes itens encontram-se interrelacionadas, através do esquema que a seguir se apresenta:
RELAÇÃO PEDAGÓGICA

Superioridade do professor em termos de profissionalidade
Respeito pela experiência do outro
DIFERENÇAS DE COMPETÊNCIA ENTRE PARCEIROS

APRENDIZAGEM
RELAÇÃO DE CONFIANÇA “PARTICULAR”

Neste artigo, destinado à formação de professores, o autor coloca a ênfase nos requisitos fundamentais do professor, como profissional, para o estabelecimento da relação pedagógica que conduz à aprendizagem do aluno. De entre esses requisitos, são abordados nestes itens os que se relacionam intrinsecamente com o estabelecimento de uma relação de confiança, essencial para a eficácia do acto pedagógico.
De entre os autores consultados, a necessidade do estabelecimento de uma relação de confiança entre professor e alunos é consensual, incluindo, embora, variantes de acordo com o tipo e a intensidade das emoções envolvidas.
Sendo o acto pedagógico um processo de relações interpessoais, o professor deve procurar melhorar essas competências.
De acordo com diversos estudos tanto as expectativas dos alunos como as dos professores em relação à competência de uns e de outros, têm influência na relação de confiança entre eles e, consequentemente na aprendizagem real (Christopher Day, 2004).
Existem outros dois factores que também impressionam positivamente os estudantes, facilitado a sua relação com o objecto em estudo. Um deles é a segurança do professor relativamente ao tema abordado, ou seja, o conhecimento que ele demonstra sobre o conteúdo. O aluno sente confiança e envolve-se na relação pedagógica sem medo. O outro factor é a relação que o professor mantém com o tema estudado, ou seja, se o professor demonstrar paixão pelo seu objecto de ensino, acaba contagiando o aluno (Sérgio A. S. Leite, “Afectividade e Práticas Pedagógicas”, 2006).

O diálogo e a negociação são sempre o melhor caminho para resolver os problemas e conseguir criar um clima propício à aprendizagem. Já que os alunos valorizam muito mais as qualidades humanas e relacionais do professor, sendo essas qualidades importantes para o desenvolvimento da confiança pedagógica. Frequentemente, os professores privilegiam mais os aspectos cognitivos, resultados escolares e atitudes morais face ao trabalho. O autoritarismo e a distância são, também, estratégias utilizadas pelos professores para manterem um clima de respeito na sala de aula. No entanto, essa “neutralidade afectiva na relação pedagógica”, não é a estratégia mais adequada para evitar conflitos, dado que essas situações são mais facilmente ultrapassáveis se houver um clima amistoso e empático.
O professor quando actua sem consistência e sem coerência, quando estabelece regras e não cumpre, não só põe em causa a sua autoridade como se torna um modelo de transgressão e cria um sentido de imprevisibilidade.
É uma traição da confiança (Estrela, 2002).

“O professor deve assumir a sua posição de adulto, que tem um saber, competências, que faz parte dos seus valores. Em resumo, apresentar uma personalidade equilibrada na qual o aluno confie, uma referência humana com a qual este possa se identificar. Um guia, capaz de se concertar com outros docentes para conceber modos de acções coordenadas, e de realizar um projecto”(Postic, 2007 )

FONTE:http://obrigadoaeducareeducadoparainstruir.blogspot.com/

Conceito de Relação Pedagógica

A relação pedagógica pode ser definida como “o contacto interpessoal que se gera entre os intervenientes de uma situação pedagógica e o resultado desses contactos”, inscrevendo-se sempre “num quadro complexo de relações mediatizadas pelo saber e pelas condições institucionais criadas para essa transmissão/apropriação do saber” (Estrela, 2002).

Por “saber” deve entender-se o saber socialmente determinado, a nível dos conteúdos, da forma de transmissão, e, ainda, das formas de acesso e utilização. Assim, a relação pedagógica está dependente da sociedade e do poder político existentes numa dada época histórica, servindo para a “preservação e consecução dos seus fins”.

A relação pedagógica é uma relação social inédita criada aquando do aparecimento de uma instância educativa especializada que separa o aprender do fazer, a Escola, que historicamente é contemporânea da dupla revolução industrial e liberal, que marcou o final do século XVIII. Neste contexto, a relação pedagógica entre professor e aluno, no quadro da classe-turma, superou a relação dual mestre-aluno, induzindo uma nova forma de socialização, progressivamente hegemónica (Canário, 2005).

Até ao início do século XX a Escola gozou de uma forte legitimidade social e o professor assumia-se como o transmissor do saber e guardião dos valores tradicionais. Assim, a relação pedagógica era profundamente influenciada pela assimetria e distanciamento entre os interlocutores (professor-aluno).

A evolução económica e social após as duas Guerras Mundiais, a defesa dos princípios democráticos, os estudos da Psicanálise e da Psicologia do Desenvolvimento, vêm alterar significativamente o papel social da Escola e do professor, pedindo-se à primeira que seja um centro que incentiva a construção do saber e ao professor que se torne um organizador e estimulador do desenvolvimento cognitivo e sócio-afectivo dos alunos. Para isso, a relação pedagógica evolui, de uma relação cheia de certezas e com uma transmissão unidireccional do saber (professor-aluno) para uma relação contingencial e em que os interlocutores interagem e aprendem.
Nesta relação, o professor e o aluno encontram-se mais próximos, dada a valorização do saber e da experiência do aluno, e do seu papel activo na construção do seu conhecimento e na participação com os outros elementos da comunidade educativa.

Como grande parte do conhecimento dos alunos é adquirido fora da escola, esta deixa de ser unicamente um centro de construção do saber do aluno, para ser também um centro de reflexão critica sobre esse saber. Assim, o professor é chamado a assumir novos papéis, para além de ser especialista numa área do saber, também deve ser um assistente de aprendizagem e moderador do grupo (Estrela, 2002).

Alguns apontamentos da ‘Educação Popular’ frente à construção de uma escola cidadã


(Re) definindo conceitos

A educação popular surgiu na América Latina no calor das lutas populares dentro e fora do Estado. Nesse sentido, afirma Gadotti (1999: 06),

A educação popular, como prática pedagógica e educacional pode ser encontrada em todos os continentes, manifestadas em concepções e práticas muitos diferentes e até antagônicas. A educação popular passou por diversos momentos epistemológicos – educacionais e organizativas, desde a busca pela conscientização, nos anos 50 e 60, e a defesa da escola pública popular comunitária, nos anos 70 e 80, até a escola cidadã, nos últimos anos, num mosaico de interpretações, convergências e divergências.

Desta forma, a proposta de refletir acerca da Educação Popular enquanto produto histórico do seu tempo implica muito mais que partir em busca de apreciação de conceitos – sem ter a intenção de fugir desta prática. Devemos ir além, o que certamente nos remete a necessidade de buscar bases sólidas, sobretudo, através de suporte teórico que convirjam conhecê-la e entendê-la em seu contexto histórico.

Entretanto, convém aclarar que a Educação Popular tal como conhecemos hoje encontra sua origem no século XIX, época em que houve grandes transformações sociais e políticas. Aos olhos de muitos, educar o povo parece muitas vezes o modo de lutar contra as dissidências operárias e de chegar à pacificação social. Além disso, a Educação Popular se fundamenta na existência de um projeto social específico, um verdadeiro “humus social e cultural”. Assim, esses dispositivos a fazem um espaço, sobretudo, de ações e práticas, e não me meros discursos, cujo risco é virar ideologia. Nessa ótica, a Educação Popular se situa na ação, da qual tem o papel de extrair sua legitimidade.

Segundo Paludo[1] (2001:53 ), a “Educação Popular representa uma concepção de educação que inicia sua gestação com o projeto de modernidade brasileira e latino-americana, cujos contornos se inovam e começa a se delinear de forma mais clara, ganhando adesões nos anos 60 e aprofundando-se nas décadas de 70 e 80”[2] . Partindo dessa observação, cremos não ser exagero assinalar que as décadas mencionadas foram responsáveis pelas mais vivas e fecundas elaborações de Educação Popular que hoje conhecemos, a exemplo pode-se mencionar a obra e prática de “Paulo Freire, que defendia a educação como prática da liberdade. A noção de liberdade na pedagogia de Freire tinha uma posição de relevo. Segundo ele, essa noção:

é matriz que atribui sentido a uma prática educativa que só pode alcançar efetividade e eficácia na medida da participação livre e critica dos educados” (FREIRE, 2006: 13)

E que,

“a conscientização é uma das fundamentais tarefas de uma educação realmente libertadora e por isso respeitadora do homem como pessoa” (FREIRE: 2002: 45)

Sob este ponto de vista afirma Beisiegel (1992: 42), o processo educativo então desenvolvido por Paulo Freire surgia como expressão educacional de um projeto político, ou seja, um projeto que estivesse comprometido com um ideal de “transformação pacífica” da sociedade de forma a envolver ativamente o povo nas atividades políticas, estimulando a criação de organizações populares, no campo e na cidade. Streck (2006:10), afirma que a Educação Popular procurou ser uma prática político-pedagógica de formação do público a partir de um lugar que se identificava com quem estava de fora ou por baixo na escala social, dependendo das teorias explicativas do popular.

De qualquer modo, partindo das premissas levantadas, acreditamos ser necessário frisar que a concepção de Educação Popular que aqui abordamos busca apontar para aquela que nasce de uma prática pedagógica, política e social. Levando em consideração que todo ato cultural é pedagógico e todo ato pedagógico é cultural, pode-se afirmar que a Educação Popular é aquela direcionada às camadas populares, voltada para as suas necessidades e atendendo os seus interesses, tornando os indivíduos elaboradores de sua própria cultura. Este processo pode acontecer dentro ou fora dos muros institucionais.

Educação do Povo x Educação popular

Nesta direção convém esclarecer que a presente reflexão busca apontar uma distinção básica entre Educação do Povo e Educação Popular que como podemos perceber aponta algumas diferenças. É comum, quando se aborda a questão educacional, ouvirem-se expressões como: “educação popular”, “educação do povo’, “educação das massas”. Ora o adjunto adjetival de tais expressões é por demais problemático. Como afirma o professor Beisiegel

“o termo popular envolve um alto teor de indefinições, apenas sugere, mais do que esclarece, tanto a natureza quanto a extensão dos fenômenos que procura especificar” (BEISIEGEL, 1994, p. 54)

O conceito popular abriga conotações muito distintas entre si, apontando desde a idéia de classe social às classes subalternas, pobres, marginalizados, oprimidos e excluídos. Já o termo popular dirige-se a todas as camadas da população, com atenção especial para aquelas que estão despossuídas de bens saberes ou poderes legitimados. Para Streck (2006: 32) a educação popular não tem como ponto de partida um único lugar, e também não tem como ponto de chegada um único projeto. O autor defende que:

O ponto de partida pode ser as mulheres, os povos indígenas, os camponeses, os desempregados, os moradores de rua ou os trabalhadores da indústria e do comércio, cada um desses segmentos sociais com suas formas de organização, pautas de luta e projeto de sociedade. O ponto de chegada que se deseja pode variar desde a ampliação de espaços na sociedade existente até a criação de um modelo alternativo, parcial ou totalmente distinto daquele que existe (STRECK, 2006: 20).

Talvez uma característica definidora da Educação Popular seja exatamente essa busca de alternativas a partir de lugares sociais e espaços pedagógicos distintos, que têm em comum a existência de necessidades que levam a querer mudanças na sociedade. É uma prática pedagógica realizada num espaço de possibilidades.

Segundo Mauruel (2000:15) existem três conceitos de povo e, por conseguinte, três princípios de ação que dele decorre respectivamente: político, social e antropológico. Na concepção política advinda do século XVIII, trata-se do povo chamado a manifesta-se pelo voto, quer dizer um conjunto de “cidadãos” constitutivos da vontade geral. A esse conceito, acrescenta-se, segundo ele o aspecto social de povo no qual este último representa a fração que sofre, reunindo pessoas e grupos sociais que não participam da vontade geral. Por último, este é o é conceito antropológico de povo, entendido como uma comunidade regida pelo fato de partilhar uma identidade. Percebe-se desta forma, que a educação popular situa seu campo no cruzamento dos três conceitos defendidos pelo autor. O fato é que o(s) público(s) entre o qual a educação popular pretende agir é bastante diversificado.

Paludo (2001) afirma que a primeira (povo) diz respeito à velha e sempre renovada discussão da educação das classes populares, enquanto a segunda (popular) se refere a uma das concepções de educação das classes populares presentes na sociedade brasileira, ou seja, a concepção de Educação Popular. Assim, buscamos entendê-la como uma prática social que vem ganhando contornos ao longo da história e cuja importância se dá pela instrumentalização do homem pela democratização da cultura. Segundo Freire (2006: 117),

A cultura como o acrescentamento que o homem faz ao mundo que não fez. A cultura como resultado de seu trabalho. Do seu esforço criador e recriador. O sentido transcendental de suas relações. A dimensão humanística da cultura. A cultura como aquisição sistemática da experiência humana. Como uma incorporação, por isso crítica e criadora, e não uma justaposição de informes ou prescrições “doadas”. A democratização da cultura(...).

Haveria uma matriz de um pensamento popular historicamente construído, a partir da qual as idéias são adaptadas, transformadas ou rejeitadas, o que vai depender do contexto histórico no qual está inserida.

por Fabíola Andrade Pereira* & Vivian Galdino de Andrade**

Leia a íntegra no endereço:http://www.espacoacademico.com.br/082/82pereira.htm


Reunião de Supervisão e Orientação

As reuniões de supervisão e orientação estão ocorrendo por núcleos, seguindo uma uma perspectiva de educação popular.




terça-feira, 30 de março de 2010

Os filmes na sala de aula

Algumas novas idéias para usar a Sétima Arte na Escola

Trabalhar com filmes em sala de aula pode ser extremamente gratificante, pois invariavelmente os resultados alcançados superam as expectativas dos professores. Para que isso aconteça é necessário que planejemos detalhadamente cada passo dessa iniciativa. Já tivemos a oportunidade de apresentar algumas das etapas desse planejamento em artigos disponibilizados pelo Planeta Educação. No presente texto retomamos a temática explorando especificamente algumas idéias e encaminhamentos que podem (e devem) facilitar ainda mais a ação dos professores interessados nesse poderoso e eficiente recurso. Para facilitar a leitura e a utilização dessas sugestões, organizamos sua apresentação em tópicos. Espero realmente que venham a ser de utilidade para muitos e muitos educadores que, como eu, apreciam a sétima arte e percebem em produções cinematográficas uma ferramenta e subsídio cultural valiosíssimo. Tenham um ótimo proveito em sua leitura e aulas...

• Os próximos passos quanto ao uso dos filmes em sala de aula referem-se à estruturação das estratégias e metodologias que orientarão parte das aulas. O que se quer, a princípio, é que as aulas sejam dinâmicas e atraentes para os estudantes. Para que isso ocorra é necessário que se organizem atividades que façam com que o educando participe ativamente dos procedimentos. Trabalhar com pequenos grupos e em situações de simulação da realidade são quesitos importantes para que os filmes possam ser discutidos e gerem produção escrita. Organização é outra palavra fundamental quando pretendemos trabalhar com grupos de estudantes; todos os detalhes de encaminhamento das atividades têm que ser apresentados antecipadamente para os estudantes. Aulas expositivas são importantes antes do filme ser mostrado ou logo depois da apresentação dos mesmos.

• Aulas expositivas que são apresentadas antes do uso dos filmes têm o propósito de traçar um panorama geral do período histórico que está sendo estudado. Através desse perfil de época apresentado em aula o educando tem condições de comparar textos utilizados, informações apresentadas pelos professores, artigos de revistas especializadas, referências de jornais ou revistas de grande circulação com os filmes. O professor tem o compromisso de disponibilizar os recursos e mobilizar os alunos não apenas através de seminários, centralizando as ações, mas também atribuindo responsabilidades e mobilizando os alunos através de atividades que se desenvolvem durante as aulas que antecedem o uso dos filmes.

Imagem-de-professora-orientando-aluna-no-computador
Os professores devem dar todas as orientações para que os trabalhos
sejam feitos da melhor forma possível; além disso, sempre que houver
a necessidade de novos esclarecimentos ou a resolução de dúvidas
deve ocorrer o pronto atendimento por parte dos mestres.

• Quando os filmes antecedem as aulas expositivas, a função do uso das películas é diferenciada em relação ao caso anteriormente apresentado. Os filmes são utilizados como recurso de chamamento dos educandos ao tema, tem o propósito de despertá-los para os temas em questão, introduzem o assunto em aulas. Mesmo nesse caso torna-se necessário que os professores procurem orientar as atividades no tocante ao filme, pedindo maior atenção quanto a determinados aspectos da história representada ou intercedendo nos momentos que considere apropriados (se necessário, parando a apresentação do filme em vídeo ou DVD). Não é recomendável que os estudantes façam anotações durante a apresentação do filme, isso dispersa a atenção dos mesmos para os detalhes da trama, do cenário, dos figurinos e de outros elementos representativos que podem ser utilizados pelo professor em suas atividades posteriores. As aulas expositivas que transcorrerem depois da apresentação devem ser utilizadas para referendar os pontos importantes disponibilizados pelo filme, aprofundar o assunto e introduzir idéias que tenham passado sem que tenham sido mencionadas; novamente cabe ao professor utilizar os recursos complementares para que as aulas sejam elucidativas, interessantes e para que a atenção e a participação dos educandos seja contínua.

Dois-alunos-simulando-redacao-de-jornal
Ambientar as aulas em situações como uma redação de jornal, uma
estação de rádio ou ainda como uma dramatização teatral pode
motivar os estudantes e levar a produção de trabalhos de ótimo nível.

• Se necessário, os trechos mais importantes podem ser apresentados uma segunda ou terceira vez, depois que as discussões e debates, assim como a redação sobre o material fílmico, já estiverem em curso durante as aulas.

• A proposta de trabalho em pequenos grupos tem o objetivo de fazer com que os educandos troquem idéias entre si, despertem uns nos outros a atenção quanto a aspectos que não foram percebidos, discutam questões propostas pelo professor e escrevam sobre o que viram. Existem vários trabalhos publicados quanto à utilização de técnicas e métodos de trabalho em aula, entre os quais destaco o livro “Manual de técnicas de dinâmica de grupo”, de Celso Antunes.

• A idéia de simulações como proposta de ação nas aulas do pós-apresentação do filme tem o propósito de aproximar os temas apresentados nos filmes da realidade em que vivem os alunos, tornando o assunto em questão ainda mais pulsante e vivo para os mesmos. Ambientar as aulas em situações como uma redação de jornal, uma estação de rádio, uma organização não-governamental ou uma secretaria de governo podem estimular os estudantes e fazer com que o resultado final dos trabalhos seja ainda mais interessante.

FONTE:http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=454 ACESSADO EM 30/03/2010